Barros Basto: o capitão nas trincheiras

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São conhecidas algumas imagens da participação portuguesa na primeira Guerra Mundial, entre 1914 e 1918. São imagens maioritariamente feitas por Joshua Benoliel, Arnaldo Garcêz e Leitão Bárcia, com formas muito diferentes de abordar o mesmo assunto, mas tendo em comum o facto de serem fotógrafos de profissão. Agora, o Centro Português de Fotografia apresenta no Porto, no edifício da Cadeia da Relação, Barros Basto: o Capitão nas trincheiras, uma exposição que reúne imagens a partir de um ponto de vista diferente, o de alguém que teve uma participação ativa no conflito, de um militar orgulhoso das suas ideias e valores, que em 1937 foi obrigado a deixar a vida militar em virtude de um processo movido pelo Conselho Superior de Disciplina do Exército, baseado em acusações relacionadas com a sua prática do culto judaico. Foi também o apego à comunidade judaica que motivou uma intensa actividade fotográfica no sentido de identificar as comunidades de judeus marranos no Norte e na Beira e ainda o registo da construção da sinagoga do Porto.

Vindo no início da década de vinte a adotar o nome hebraico de Abraão Israel Bem-Rosh, Artur Carlos Barros Basto (1887-1961), que em 5 de outubro de 1910 hasteou a bandeira republicana no Porto, apresenta-nos um conjunto de imagens inéditas que se centra no quotidiano e no olhar de quem vive a guerra por dentro. Maria do Carmo Serém, na apresentação desta exposição diz-nos que se trata de um “conjunto de imagens peculiares de um homem peculiar, longe dos embarques em Alcântara, da visita de Bernardino Machado ou do “Um adeus carinhoso” de Benoliel ou ainda das mais oficiosas fotografias de Garcêz”. Diz-nos ainda que Barros Bastos nos mostra “o quotidiano do acampamento da sua 4ª Companhia: o bivaque, a definição das trincheiras e das protecções do arame farpado, a pose dos militares frente às ruínas da guerra ou a criação de uma imaginosa e impressionante presença do divino na efémera comunidade militar”.

Este é assim um raro espólio fotográfico da participação portuguesa na guerra, que pode ser visto até junho do próximo ano, integrado nas comemorações do centenário da Primeira Guerra Mundial. É um conjunto de imagens que mostra o conflito por dentro, possuindo um importante valor documental, ao nos apresentar de forma muito genuína os olhares, as atitudes e a organização dos espaços. Esta é, pois, uma exposição a não perder, pelo estudo da fotografia e da sua história, por momentos cruciais da história portuguesa e pela diversidade e tolerância, tão necessárias nos dias que correm, como homenagem a um homem de valores. A este propósito Sérgio B. Gomes publica no jornal Público um excelente artigo em http://www.publico.pt/portugal/noticia/o-capitao-barros-basto-escondia-um-segredo-1676260 , ou se quiser visitar o sítio na internet do Centro Português de Fotografia pode faze-lo em http://www.cpf.pt/

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